MANSIDÃO

Mais uma vez, ouvi comentar que, em nossos tempos, não dá mais para
ninguém meter-se a manso…

Não falta quem pense que, em nossos dias, de avanço em avanço, de
ambição desmedida, de violência, quem se fizer de manso será devorado.

Muito ao contrário. Continua plenamente verdadeira a bem-aventurança
de Cristo! "Os mansos possuirão a terra".

Ao longo de toda a minha vida, comprovo que a bondade não resolve
tudo. Mas se a bondade não resolve, não é a violência que vai
resolver.

Recebemos ensinamentos preciosos dos nossos pais. Mas aqui e acolá,
havia pais que deixavam escapar conselhos que, hoje, da Casa do Pai
onde se encontram, jamais repetiriam…

Há quem tome o pé da letra, como regra intocável, o aviso paterno de
não trazer desaforo para casa… alguns pais chegavam a dizer: "Se
chegar em casa chorando, porque apanhou na rua, apanha em casa, porque
não soube reagir à altura…"

Não vacilo em pedir aos pais (pai e mãe de família): não batam nos filhos…

Conheço mães que batiam no filho-criança. Não notaram que o filho foi
crescendo. Acabam ouvindo o que não queriam ouvir. "A Sra. veja que eu
não sou mais criança. Acabe com esta história de bater. Um dia eu
perco a cabeça e respondo a tapa com tapa…"

Pancada nem para animais!

Ah, se o pai acostumasse desde pequeninos a chamá-los para uma
conversinha particular, sem sombra de castigos ou de pancadas. O ideal
é que quanto mais sério for o assunto, mais baixa e suave seja a
voz… Comece dizendo que deseja que o próprio filho conte o que
aconteceu. E estimule ao máximo a narrativa verdadeira, sem mentiras,
sem defesa capciosa.

Depois de ouvir o filho ou a filha, diga o que espera deles. Lembre
como estão crescendo. Como em breve terão de viver como adultos, sem
painho nem mainha, claro, sem sombra de amas…

Quando a pessoa se vicia em armar barulho em toda a parte — com os
balconistas nas lojas, com os motoristas nos táxis, com os trocadores
nos ônibus, com os garçons nos restaurantes, com os vigias de
apartamentos, para citar alguns exemplos —, quando a pessoa cria
caso onde chega, se esquece que muitas vezes, quem atende, atende mal,
quem sabe está com a cabeça estalando com problemas de casa (problemas
de desemprego, problema de dívidas a pagar, problemas com o marido,
com os filhos, com o namorado, problemas de saúde, de cansaço…).

E ai de quem ganha fama de ser pessoa grossa, impaciente, respondona,
criadora de casos…

O manso abre caminho, conquista simpatia e, além de ganhar o céu,
possuirá a terra.

Do livro UM OLHAR SOBRE A CIDADE, de D. Hélder Câmara- 3ª edição/2009-PAULUS